Há
milhares de desculpas para não escrever ou ligar para um veículo de
comunicação quando você vê uma matéria injusta, tendenciosa ou
imprecisa: “Eu não sei o suficiente”; “Eu estou muito
ocupado”; “Meu computador pifou.”
Comunicar-se com jornalistas faz a diferença. Não
precisa ser impecável; nem todas as cartas enviadas para jornalistas
precisam ser publicadas. Até mesmo uma nota manuscrita de uma única
sentença para um repórter pode ser útil. Se você estiver disposto
a dedicar seu tempo para escrever uma carta bem fundamentada, envie
cópias da carta para dois ou três lugares da mídia em questão
– pode ser para o repórter, para o editor-chefe/diretor de redação,
e para a seção de cartas do editorial.
Se o veículo de comunicação receber uma dúzia
ou mais de cartas de pessoas levantando as mesmas questões, eles
irão publicar uma ou duas dessas cartas recebidas. Assim, mesmo que
sua carta não seja publicada, ela ajudará outra carta de
conteúdo similar a ser publicada. Pesquisas feitas com leitores de
jornais apontam que a seção de cartas está entre as partes mais
lidas do jornal. A seção de cartas é a parte que os políticos
usam como termômetro para medir a opinião pública.
Seja factual ao invés de retórico quando
escrever para os jornalistas. Não use ataques pessoais; atacá-los
pode ter o efeito contrário ao desejado. Aborde-os na linguagem que
maioria dos jornalistas está apta a compreender: o chamado à
responsabilidade, ao profissionalismo, ao equilíbrio e à inclusão de
diversas fontes e pontos de vista.
Cartas destinadas à publicação devem ser
elaboradas cuidadosamente. Aqui tem algumas dicas para se ter em
mente.
Faça uma observação (ou duas no máximo) na sua
carta, fax ou e-mail. Exponha sua questão de forma objetiva, logo na
primeira sentença.
Torne sua carta oportuna. Se você não se
refere a um artigo em específico, a um editorial ou a alguma
carta publicada no jornal para o qual você está escrevendo, procure
relacionar a questão que você deseja abordar em sua carta com algum
acontecimento recente.
Familiarize-se com a posição editorial e de
cobertura do jornal ao qual você está escrevendo. Refute ou
ratifique comentários específicos, aborde fatos relevantes que
foram ignorados, e evite ataques generalizados à mídia como um todo
ou ao jornal em particular.
Verifique as especificações para o envio de
cartas para o jornal que você está escrevendo. Requerimentos de
comprimento e formato variam de jornal para jornal – geralmente o
ideal é cerca de dois parágrafos curtos. Você deve incluir seu
nome, assinatura, endereço e telefone de contato.
Repare nas cartas publicadas no jornal que você
lê. Há um certo padrão no tipo de cartas que usualmente são
publicadas?
Sustente seus argumentos. Se o tópico que você
aborda é polêmico, considere enviar as evidências documentais
junto com a sua carta. Porém evite sobrecarregar os editores com
informação em demasia.
Mantenha sua carta breve. Escreva sempre que for
possível.
Forme um grupo de pessoas para escrever sempre que
for possível. Isso mostrará que há outros indivíduos da região
preocupados com a questão. Se sua carta não for publicada, talvez a
de outra pessoa do grupo será.
Monitore o jornal para saber se sua carta foi
publicada. Se sua carta não tiver sido publicada dentro de uma
semana ou duas, ligue para o departamento editorial exigindo
satisfação.
Escreva para seções diferentes do jornal quando
for apropriado. Às vezes a questão que você quer abordar é
relevante para outra seção do jornal (economia, cultura, lazer
etc.)
Um número crescente de noticiários de rádio [AM e FM]
também recebe e lê ao vivo as “cartas ao editor.” Lembre-se
dessas mídias. Outra opção são os jornais de distribuição gratuita como o Destak, Metro, Jornal Tropical, Jornal Sampa, Jornal do Triângulo e etc.
Assine suas cartas como pessoa física ou como
representante de uma causa específica.
Envie cópias de suas cartas (publicadas ou não)
para grupos que defendem a mesma causa que você ou que defendam
temas correlatos.
Como Escrever um Artigo
Artigos são mais longos que cartas ao editor, e
há mais competição pelo espaço. Informe-se sobre os requerimentos
de comprimento (geralmente de 600 a 800 palavras). Há seções nos jornais destinadas às várias opiniões, seja de colunistas, ensaístas, comentaristas ou mesmo de leitores. No Jornal do Brasil há a seção “Sociedade Aberta,” na Folha de São Paulo tem a seção “Têndencias/Debates” e etc.
Procure escrever sobre algum tema polêmico
noticiado recentemente. Caso possua um título profissional que lhe confira
autoridade para falar da questão, use-o. Se você trabalha para uma
organização, peça permissão para assinar o artigo como
representante daquela organização.
Sinta-se à vontade para enviar os artigos até
mesmo para jornais de outras cidades e/ou estados, mas evite mandar
os artigos para dois ou mais jornais de um mesmo estado e/ou cidade.
Há jornais que não aceitam artigos que já foram oferecidos a
outros concorrentes. Mas você pode enviar facilmente o mesmo artigo
para cinco ou mais jornais diários de regiões
diferentes — aumentando exponencialmente a chance de ter seu artigo
publicado.
Assegure ao editor responsável na primeira página
de sua carta que o artigo não foi enviado a nenhum outro jornal
concorrente. Se, por outro lado, você enviou o artigo para um único
jornal, avise-os de que o material que você está oferecendo é
exclusivo.
Ao escrever artigos, fuja do exesso de
retórica. Seja objetivo ao abordar o assunto. Você está tentando
persuadir o leitor mediano. Se você se baseia em fatos difíceis de
achar na mídia convencional, cite suas fontes (as de maior
credibilidade de preferência).
Escolha um título chamativo. Se você não o
fizer, o jornal o escolherá por você — podendo deixar de enfatizar
a mensagem central. (Ainda que você mesmo tenha escolhido o título,
não se surpreenda caso ele seja mudado ao ser publicado.)
Esteja preparado para resumir e reenviar o seu
artigo como uma carta ao editor caso este não seja aceito. Uma alternativa é a seção “Painel do Leitor” na Folha de São Paulo e/ou a seção “Fórum dos Leitores” no Estadão.
Como Marcar uma Reunião com o Departamento Editorial
Se
a cobertura jornalística que você objeta é parte de um padrão
sistemático de enviesamento, você deve dar um passo além da
comunicação individual com o jornalista. O próximo passo é sempre
uma tentativa de marcar uma reunião/encontro com a direção do
veículo de comunicação.
Reúna evidências
de viés
Faça
um dossiê dos artigos ofensivos. Anote as matérias imprecisas,
tendenciosas ou ofensivas na cobertura jornalística. Grave as
perspectivas políticas presentes em talk shows e até mesmo em
novelas. (Leia “Como Detectar Proselitismo nos Meios de Comunicação”)
Documente o padrão
do viés
Esteja
preparado para explicar como isso se trata de mau jornalismo (dá uma
impressão falsa ou enganosa sobre a questão ou sociedade, não
fornece uma gama equilibrada de fontes, etc.) Precisão e
objetividade são da maior importância aqui.
Crie uma coalizão
Reúna
pessoas que representem vários grupos da sua região, líderes de
várias organizações e instituições ou coalizações que possam
se comunicar com o eleitorado mais amplo possível. Você quer deixar
a mídia a par do número de pessoas que você representa. Veículos
de comunicação são empresas; e o número de consumidores que você
representa é parte do seu poder. Esteja você exigindo que uma
emissora de televisão exiba um programa em específico para gerar
equilíbrio, ou exigindo que um jornal se livre da terminologia
politicamente correta, o ponto crucial é demonstrar o apelo popular
da sua reivindicação. Vale ressaltar aqui o caso do cineasta Daniel Moreno, autor do documentário Reparação, que ainda luta para conseguir um espaço nas telas para a exibição do seu filme que diverge da história oficial.[*]
Agende a reunião
Escreva
para o veículo de comunicação local e peça uma reunião. Se a sua
reclamação é sobre o noticiário, explique que você representa um
amplo nicho de eleitores preocupados com a questão e que gostariam
de um encontro com o editor/produtor/diretor do noticiário. Se você
quer que um jornal siga uma determinada linha editorial para alguma
questão, entre em contato com o conselho editorial. Após uma semana
ou mais, aumente a possibilidade de sucesso de sua reivindicação
com o envio de uma carta seguido por uma ligação telefônica.
Continue ligando até ter sua reunião agendada. Geralmente alguém
irá marcar uma reunião com você.
Planeje sua
apresentação
Você provavelmente irá se organizar e elaborar
estratégias antecipando a reunião para definir o que dizer, o que
não dizer, quais estatísticas ou documentações fornecer, quem irá
fornecê-las, etc. A primeira impressão é fundamental. O que você
quer comunicar nos primeiros minutos?
Exponha a sua
questão
Esteja
com seus objetivos em mente antes de ir para a reunião. Seja educado
e assertivo. Seja persistente e mantenha a calma. Atenha-se ao que
pode provar. Conclua a reunião dando ênfase a pedidos específicos
para a melhoria da cobertura jornalística feita pelo noticiário, a
inclusão de pontos de vista que tem sido sistematicamente excluídos
para proporcionar o equilíbrio, fornecendo contexto ou fatos para
uma questão específica, mudanças na terminologia, etc.
Acompanhe
Envie uma carta descrevendo tudo o que foi
acordado para todos os participantes da reunião. Se você ver uma
boa cobertura jornalística que possa ser uma resposta aos seus
anseios, entre prontamente em contato com o representante da mídia
do mais alto escalão que esteve presente na reunião e elogie-o pelo
esforço feito ao atender suas reivindicações. Se você continuar a
ver matérias malfeitas, escreva ou ligue para contestar. A não ser
que você deixe claro que está monitorando o noticiário
constantemente, você será incapaz de influenciar a cobertura
jornalística.
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