sábado, 26 de abril de 2014

Como se Comunicar com Jornalistas


Há milhares de desculpas para não escrever ou ligar para um veículo de comunicação quando você vê uma matéria injusta, tendenciosa ou imprecisa: “Eu não sei o suficiente”; “Eu estou muito ocupado”; “Meu computador pifou.”

Comunicar-se com jornalistas faz a diferença. Não precisa ser impecável; nem todas as cartas enviadas para jornalistas precisam ser publicadas. Até mesmo uma nota manuscrita de uma única sentença para um repórter pode ser útil. Se você estiver disposto a dedicar seu tempo para escrever uma carta bem fundamentada, envie cópias da carta para dois ou três lugares da mídia em questão – pode ser para o repórter, para o editor-chefe/diretor de redação, e para a seção de cartas do editorial.

Se o veículo de comunicação receber uma dúzia ou mais de cartas de pessoas levantando as mesmas questões, eles irão publicar uma ou duas dessas cartas recebidas. Assim, mesmo que sua carta não seja publicada, ela ajudará outra carta de conteúdo similar a ser publicada. Pesquisas feitas com leitores de jornais apontam que a seção de cartas está entre as partes mais lidas do jornal. A seção de cartas é a parte que os políticos usam como termômetro para medir a opinião pública.

Seja factual ao invés de retórico quando escrever para os jornalistas. Não use ataques pessoais; atacá-los pode ter o efeito contrário ao desejado. Aborde-os na linguagem que maioria dos jornalistas está apta a compreender: o chamado à responsabilidade, ao profissionalismo, ao equilíbrio e à inclusão de diversas fontes e pontos de vista.

Cartas destinadas à publicação devem ser elaboradas cuidadosamente. Aqui tem algumas dicas para se ter em mente.

Faça uma observação (ou duas no máximo) na sua carta, fax ou e-mail. Exponha sua questão de forma objetiva, logo na primeira sentença.

Torne sua carta oportuna. Se você não  se refere a um artigo em específico, a um editorial ou a alguma carta publicada no jornal para o qual você está escrevendo, procure relacionar a questão que você deseja abordar em sua carta com algum acontecimento recente.

Familiarize-se com a posição editorial e de cobertura do jornal ao qual você está escrevendo. Refute ou ratifique comentários específicos, aborde fatos relevantes que foram ignorados, e evite ataques generalizados à mídia como um todo ou ao jornal em particular.

Verifique as especificações para o envio de cartas para o jornal que você está escrevendo. Requerimentos de comprimento e formato variam de jornal para jornal – geralmente o ideal é cerca de dois parágrafos curtos. Você deve incluir seu nome, assinatura, endereço e telefone de contato.

Repare nas cartas publicadas no jornal que você lê. Há um certo padrão no tipo de cartas que usualmente são publicadas?

Sustente seus argumentos. Se o tópico que você aborda é polêmico, considere enviar as evidências documentais junto com a sua carta. Porém evite sobrecarregar os editores com informação em demasia.

Mantenha sua carta breve. Escreva sempre que for possível.

Forme um grupo de pessoas para escrever sempre que for possível. Isso mostrará que há outros indivíduos da região preocupados com a questão. Se sua carta não for publicada, talvez a de outra pessoa do grupo será.

Monitore o jornal para saber se sua carta foi publicada. Se sua carta não tiver sido publicada dentro de uma semana ou duas, ligue para o departamento editorial exigindo satisfação.

Escreva para seções diferentes do jornal quando for apropriado. Às vezes a questão que você quer abordar é relevante para outra seção do jornal (economia, cultura, lazer etc.)

Um número crescente de noticiários de rádio [AM e FM] também recebe e lê ao vivo as “cartas ao editor.” Lembre-se dessas mídias. Outra opção são os jornais de distribuição gratuita como o Destak, Metro, Jornal Tropical, Jornal Sampa, Jornal do Triângulo e etc.

Assine suas cartas como pessoa física ou como representante de uma causa específica.

Envie cópias de suas cartas (publicadas ou não) para grupos que defendem a mesma causa que você ou que defendam temas correlatos.

 

Como Escrever um Artigo


Artigos são mais longos que cartas ao editor, e há mais competição pelo espaço. Informe-se sobre os requerimentos de comprimento (geralmente de 600 a 800 palavras). Há seções nos jornais destinadas às várias opiniões, seja de colunistas, ensaístas, comentaristas ou mesmo de leitores. No Jornal do Brasil há a seção “Sociedade Aberta,” na Folha de São Paulo tem a seção “Têndencias/Debates” e etc.

Procure escrever sobre algum tema polêmico noticiado recentemente. Caso possua um título profissional que lhe confira autoridade para falar da questão, use-o. Se você trabalha para uma organização, peça permissão para assinar o artigo como representante daquela organização.

Sinta-se à vontade para enviar os artigos até mesmo para jornais de outras cidades e/ou estados, mas evite mandar os artigos para dois ou mais jornais de um mesmo estado e/ou cidade. Há jornais que não aceitam artigos que já foram oferecidos a outros concorrentes. Mas você pode enviar facilmente o mesmo artigo para cinco ou mais jornais diários de regiões diferentes — aumentando exponencialmente a chance de ter seu artigo publicado.

Assegure ao editor responsável na primeira página de sua carta que o artigo não foi enviado a nenhum outro jornal concorrente. Se, por outro lado, você enviou o artigo para um único jornal, avise-os de que o material que você está oferecendo é exclusivo.

Ao escrever artigos, fuja do exesso de retórica. Seja objetivo ao abordar o assunto. Você está tentando persuadir o leitor mediano. Se você se baseia em fatos difíceis de achar na mídia convencional, cite suas fontes (as de maior credibilidade de preferência).

Escolha um título chamativo. Se você não o fizer, o jornal o escolherá por você — podendo deixar de enfatizar a mensagem central. (Ainda que você mesmo tenha escolhido o título, não se surpreenda caso ele seja mudado ao ser publicado.)

Esteja preparado para resumir e reenviar o seu artigo como uma carta ao editor caso este não seja aceito. Uma alternativa é a seção “Painel do Leitor” na Folha de São Paulo e/ou  a seção “Fórum dos Leitores” no Estadão.

 

Como Marcar uma Reunião com o Departamento Editorial


Se a cobertura jornalística que você objeta é parte de um padrão sistemático de enviesamento, você deve dar um passo além da comunicação individual com o jornalista. O próximo passo é sempre uma tentativa de marcar uma reunião/encontro com a direção do veículo de comunicação.

Reúna evidências de viés
Faça um dossiê dos artigos ofensivos. Anote as matérias imprecisas, tendenciosas ou ofensivas na cobertura jornalística. Grave as perspectivas políticas presentes em talk shows e até mesmo em novelas. (Leia “Como Detectar Proselitismo nos Meios de Comunicação”)

Documente o padrão do viés
Esteja preparado para explicar como isso se trata de mau jornalismo (dá uma impressão falsa ou enganosa sobre a questão ou sociedade, não fornece uma gama equilibrada de fontes, etc.) Precisão e objetividade são da maior importância aqui.

Crie uma coalizão
Reúna pessoas que representem vários grupos da sua região, líderes de várias organizações e instituições ou coalizações que possam se comunicar com o eleitorado mais amplo possível. Você quer deixar a mídia a par do número de pessoas que você representa. Veículos de comunicação são empresas; e o número de consumidores que você representa é parte do seu poder. Esteja você exigindo que uma emissora de televisão exiba um programa em específico para gerar equilíbrio, ou exigindo que um jornal se livre da terminologia politicamente correta, o ponto crucial é demonstrar o apelo popular da sua reivindicação. Vale ressaltar aqui o caso do cineasta Daniel Moreno, autor do documentário Reparação, que ainda luta para conseguir um espaço nas telas para a exibição do seu filme que diverge da história oficial.[*]

Agende a reunião
Escreva para o veículo de comunicação local e peça uma reunião. Se a sua reclamação é sobre o noticiário, explique que você representa um amplo nicho de eleitores preocupados com a questão e que gostariam de um encontro com o editor/produtor/diretor do noticiário. Se você quer que um jornal siga uma determinada linha editorial para alguma questão, entre em contato com o conselho editorial. Após uma semana ou mais, aumente a possibilidade de sucesso de sua reivindicação com o envio de uma carta seguido por uma ligação telefônica. Continue ligando até ter sua reunião agendada. Geralmente alguém irá marcar uma reunião com você.

Planeje sua apresentação
Você provavelmente irá se organizar e elaborar estratégias antecipando a reunião para definir o que dizer, o que não dizer, quais estatísticas ou documentações fornecer, quem irá fornecê-las, etc. A primeira impressão é fundamental. O que você quer comunicar nos primeiros minutos?

Exponha a sua questão
Esteja com seus objetivos em mente antes de ir para a reunião. Seja educado e assertivo. Seja persistente e mantenha a calma. Atenha-se ao que pode provar. Conclua a reunião dando ênfase a pedidos específicos para a melhoria da cobertura jornalística feita pelo noticiário, a inclusão de pontos de vista que tem sido sistematicamente excluídos para proporcionar o equilíbrio, fornecendo contexto ou fatos para uma questão específica, mudanças na terminologia, etc.

Acompanhe
Envie uma carta descrevendo tudo o que foi acordado para todos os participantes da reunião. Se você ver uma boa cobertura jornalística que possa ser uma resposta aos seus anseios, entre prontamente em contato com o representante da mídia do mais alto escalão que esteve presente na reunião e elogie-o pelo esforço feito ao atender suas reivindicações. Se você continuar a ver matérias malfeitas, escreva ou ligue para contestar. A não ser que você deixe claro que está monitorando o noticiário constantemente, você será incapaz de influenciar a cobertura jornalística.

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